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Fique atento à Herpes Zóster

19/07/2023

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Entrevista: Raphael Ramirez

Uma lesão de pele que pode acometer qualquer parte do corpo e, mesmo meses após a cura, pode manter a área afetada sensível e dolorida. Trata-se do herpes zoster, doença que atinge todas as faixas etárias mas que, com o processo de envelhecimento e a queda natural do sistema imunológico, ocorre com maior frequência nas pessoas com mais de 60 anos.

Na última edição do Fator A online, fomos conversar com a infectologista dra. Natalia Domino sobre o herpes zoster: principais sintomas, formas de tratamento, profissionais aptos para identificar e como prevenir. Confira abaixo.

Fator A – Em primeiro lugar, a doutora pode nos contar do que se trata o Herpes Zoster e como se desenvolve?

Dra. Natalia Domino, infectologista –
Existe uma família de vírus chamada Herpesviridae ou família herpes. Dentro desta família há alguns subtipos e um deles é o varicela zoster. Quando entramos em contato com esse vírus pela primeira vez, desenvolvemos a catapora, popularmente conhecida como varicela, com lesões que variam entre vesículas e crostas. Muitas pessoas tiveram isto na infância, muitas vezes ao mesmo tempo em que primos ou irmãos de idade próxima.

Este vírus fica no nosso organismo em uma fase de latência: fica dormente num local que a gente chama de gânglios nervosos. Quando, em algum momento da vida, a nossa imunidade abaixa, ou conforme vamos envelhecendo, num processo chamado de imunossenescência – que é justamente a redução natural da nossa imunidade com o passar dos anos; quando a nossa imunidade cai, pode surgir o herpes zoster. É uma reativação daquele vírus que nós tivemos contato na infância.

Normalmente ele acontece apenas em uma parte do corpo; é limitado mas é extremamente doloroso, e esta dor intensa é a principal complicação do herpes zoster.

Fator A - Quais são os principais sintomas desta doença?

Dra. Natalia –
Normalmente quando há o surgimento do zoster, o primeiro sintoma é uma vermelhidão na região atingida, que fica um pouco mais sensível; não necessariamente dolorida, mas sensível. Surgem então pequenas bolhas de água, próximas umas às outras; estas bolhinhas costumam estourar espontaneamente, formando uma crosta na região. Este local fica sensibilizado e bastante doloroso conforme vai passando o tempo.

Estas lesões costumam durar cerca de 14 dias, mas a dor pode permanecer por meses ou, nos piores casos, até por anos, mesmo sem a lesão aparente na pele. Tem alguns locais do corpo que melhoram, ficam sem cicatrizes, mas as dores permanecem.

Detalhe: pode acontecer em qualquer parte da pele, qualquer parte do corpo. Esta dor exacerbada que permanece depois de algum tempo a gente chama de neuralgia pós-herpética, que é a principal complicação e o que a gente mais tenta evitar com a vacinação.

Naquele local, depois que a lesão deixa de existir, a gente não chama mais de herpes zoster: o acontecimento foi o zoster, que surgiu e melhorou, e ficou uma complicação, que é a dor. Algumas pessoas sequer têm a lesão de pele. Por exemplo, há alguns casos em que a lesão acontece no canal auditivo, num lugar de difícil acesso visual; ou então uma lesão que melhorou muito rápido e a pessoa nem percebeu, mas geralmente a dor é algo presente em todos os casos.

Fator A - Esta doença geralmente se manifesta em apenas um lado do corpo?

Dra. Natália –
Nós dividimos a sensibilidade e a motricidade do corpo em dermátomos, que é como se fosse a expressão na pele dos gânglios nervosos. Como o zoster fica em um destes gânglios, a parte da pele responsável por aquele gânglio é onde vão se manifestaras lesões. Por isto normalmente o zoster se manifesta no mesmo local. Claro, o zoster pode se manifestar mais de uma vez; como é extremamente doloroso, uma pessoa que já teve um caso de herpes zoster tem mais propensão de ter mais vezes; acaba ficando uma área muito sensível e conforme ocorrem mais episódios, a região vai ficando mais dolorosa. Há também pessoas que estão muito imunossuprimidas podem fazer o zoster disseminado, que é quando se manifesta em mais de uma área do corpo ao mesmo tempo.

Fator A – Ao identificar algum destes sintomas ou mesmo ficar na dúvida, que tipo(s) de profissional(is)o paciente pode buscar?

Dra. Natalia –
O profissional especialista nesta área é o infectologista, que costuma cuidar da doença ativa.Outros profissionais que podem auxiliar seriam o clínico geral, num primeiro momento de urgência,para amenizar as dores e, caso ocorra uma complicação da neuralgia pós-herpética, um neurologista especialista em dor pode auxiliar no manejo desta complicação.

Fator A – Existe algum grupo de risco? Há algum fator referente à cor da pele, idade, gênero ou todas as pessoas estão igualmente suscetíveis a desenvolver a Herpes Zóster?

Dra. Natália –
Conforme as pessoas vão envelhecendo e perdendo a imunidade natural – na verdade é uma mudança de padrão nas células de defesa -, elas vão ficando mais propensas ao desenvolvimento de Herpes Zoster. Outras pessoas que têm mais risco são os pacientes imunodeprimidos, que nós dividimos em tipos: imunodeprimidos por conta de alguma doença que, por si só, diminui a imunidade, como pacientes com deficiência de imunoglobulinas, com HIV ou com alguns tipos de câncer, acabam tendo uma redução por conta da doença. Outro tipo de pacientes são aqueles que fazem uso de medicação que reduz a imunidade,como pessoas que têm doenças autoimunes, alguns tipos de quimioterapia, transplantados. Se eles usam um medicamento imunossupressor, que diminui muito a imunidade, ele tem mais chances sim.

Fator A - Há algum hábito ou atividade que você julgue ser um agravante para o desenvolvimento da Herpes Zóster?

Dra. Natália –
É claro que manter um estilo de vida saudável, atividades físicas, boa alimentação,cuidados com a saúde mental, faz com que a gente chegue à velhice com uma qualidade de vida melhor,e consequentemente com a imunidade melhor. Mas o fato de a pessoa tomar suplementos vitamínicos não altera em nada.

Tem algumas coisas que eu falo para os pacientes que fazemos no dia a dia sem perceber, mas que alteram muito como o nosso organismo está por dentro.Tabagismo, consumo de bebida alcoólica, consumo exagerado de açúcar, muita farinha, pão branco,bolacha, bolo... As pessoas nem sempre têm consciência de que tudo isto causa um grau de inflamação no nosso corpo. Quanto mais inflamado você está, mais sensível você acaba ficando para um eventual episódio de Herpes Zoster.

Fator A – Como é o tratamento para Herpes Zoster?

Dra. Natália –
Podemos tratar com algumas opções de medicamentos antivirais. O ideal é que se passe por uma avaliação médica para avaliar a extensão das lesões, e então definir a necessidade e o tempo de tratamento. Normalmente é necessário tomar estes medicamentos apenas por alguns dias, e junto comestes medicamentos nós tentamos amenizar os sintomas da dor com analgésicos. Se a pessoa tiver um episódio de herpes zoster e não procurar atendimento médico, ela tende a melhorar sozinha, sem intervenções. Mas o ideal é procurar atendimento para ser orientado, principalmente em relação ao tratamento da dor, à vacinação e à transmissão.

Fator A – Há disponíveis também algumas vacinas de prevenção ao herpes zóster. Você poderia nos falar sobre a importância em toma-las?

Dra. Natália -
Nós temos dois tipos de vacina no Brasil: o primeiro é uma vacina de vírus atenuado: ela é capaz de diminuir a incidência do zoster, mas não é tão eficaz quanto a vacina recombinante, que é o segundo tipo e foi liberada no Brasil no ano passado(já havia liberação em outros países) Esta vacina que foi liberada recentemente tem potencial maior de evitar a ocorrência de zoster e é indicada para pessoas com mais de 50 anos ou para maiores de 18 anos com alguma imunossupressão. Já a anterior só era indicada para o grupo de idosos. Esta que foi aprovada em 2022 não precisa esperar um tempo específico depois do episódio do herpes zóster e nem precisa ter tido um episódio para fazer a vacinação.

Fator A - Ao ser diagnosticado com Herpes Zóster, as chances de recuperação geralmente são favoráveis?Ouvir este diagnóstico não precisa ser, necessariamente, uma condenação a uma vida com sofrimentos.

Dra. Natália –
A nossa maior preocupação é a neuralgia pós-herpética, porque ela diminui muito a qualidade de vida do paciente. Mas o fato de você ter tido herpes zoster alguma vez não significa que você vai ter várias vezes ou que, obrigatoriamente, você vai sentir dor posteriormente. Alguns pacientes têm só aquele período das lesões, por cerca de dez a quinze dias de sintomas e acabam melhorando completamente.

Fator A – Qual a importância dos familiares no momento da notícia desta condição?

Dra. Natália –
A importância familiar neste contexto vem no sentido de não menosprezar a dor que o outro está sentindo. Eu digo que a dor é uma coisa muito pessoal; tem pessoas que toleram melhor, tem pessoas que não toleram tão bem. O suporte é importante neste sentido, de incentivar, procurar auxílio médico quando for necessário para o manejo da dor,atividades físicas auxiliam muito no controle, traz sensação de bem-estar. Mas o mais importante é não menosprezar a dor; este é o maior apoio que um familiar pode dar.

Fator A – Com qual periodicidade as pessoas precisam visitar um infectologista?

Dra. Natalia –
Quando se entra na faixa dos 50 anos eu indico uma primeira visita, para que você identifique quais são as vacinas necessárias e qual o período para fazê-las. Outra coisa: aposentados costumam viajar bastante, então é indicada uma visita ao infectologista para orientar tanto quanto à vacinação referente às doenças que se pode pegar naquele lugar específico, quanto a algum tipo de profilaxia, como malária. Quando a gente viaja,ficamos expostos a um ambiente muito diferente; a nossa imunidade nem sempre está preparada para o contato com outros vírus ou bactérias daquele local.


SERVIÇO


Dra. Natalia Domino
Infectologista

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